11/04/2013

Fernando Pessoa, “Quando o Amor Vacila

“Eu sei que atrás deste universo de aparências, 
das diferenças todas, 
a esperança é preservada.
Nas xícaras sujas de ontem 
o café de cada manhã é servido. 
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir, 
e dela não me conformo.
Eu acredito em tudo, 
mas eu quero você agora
Eu te amo pelas tuas faltas, 
pelo teu corpo marcado, 
pelas tuas cicatrizes, 
pelas tuas loucuras todas, minha vida.
Eu amo as tuas mãos, 
mesmo que por causa delas 
eu não saiba o que fazer das minhas.
Amo teu jogo triste.
As tuas roupas sujas 
é aqui em casa que eu lavo.
Eu amo a tua alegria.
Mesmo fora de si, 
eu te amo pela tua essência. 
Até pelo que você poderia ter sido, 
se a maré das circunstâncias 
não tivesse te banhado 
nas águas do equívoco.
Eu te amo nas horas infernais 
e na vida sem tempo, quando, 
sozinha, bordo mais uma toalha 
de fim de semana.
Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.
Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas 
e pelos teus sonhos inúteis.
Amo teu sistema de vida e morte.
Eu te amo pelo que se repete 
e que nunca é igual.
Eu te amo pelas tuas entradas, 
saídas e bandeiras.
Eu te amo desde os teus pés 
até o que te escapa.
Eu te amo de alma para alma. 
E mais que as palavras, 
ainda que seja através delas 
que eu me defenda, 
quando digo que te amo 
mais que o silêncio dos momentos difíceis, 
quando o próprio amor 
vacila.”

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