Meu velho homem era um homem mau. Não obstante, não sabíamos exatamente o que fazer sobre isso. Eu, pessoalmente, preferia ele assim, mau. Ele bom era um saco. Ria de qualquer merda que eu fizesse e quando eu queria agressividade ele era todo plumas. Eu queria foda e ele queria amor. Mas, na essência, ele era um homem mau. Deixava cuecas molhadas no box do banheiro e cortava as unhas do pé em cima da cama. Não me acordava se eu estivesse atrasada e nunca lembrava de pegar a lista de compras antes de sair. Isso quase sempre queria dizer que eu ficava sem cigarros e isso me deixava mau humorada.
Ele dizia que eu era uma péssima namorada. Extremamente mimada. Meu velho namorado era uma múmia em algumas questões, como fazer café em coador de tecido. Mas isso eu gostava. Odiava era quando ele deixava a impressora engasgada ou ia bater naquela porcaria de máquina de escrever a madrugada inteira. Tec tec. Tec tec. Plaft. Tec tec. Tec tec. Tec a puta que pariu. O pior era quando meu velho homem não aguentava o tranco e dormia antes de me satisfazer. Eu tinha vontade de acordá-lo com mordidas sangrentas.
Mas meu velho homem era muito gentil também, tinha esses trejeitos arcaicos de aparecer com buquês de flores endereçados à "bela nova senhora". Às vezes eu acordava com um bilhete ao lado da cama que dizia que o café estava pronto e que ele me amava. Mas meu velho homem era um homem mau. Não quis mais me esperar. Foi-se em um cruzeiro para Espanha, conheceu uma velha senhora e por lá ficou. Só me mandou uma carta.
"Minha bela nova senhora,
Sinto que já não posso mais te acompanhar. À cada dia está mais lépida e fagueira e meu coração já não processa tanta emoção. Tanto ardor. Sinto muito, sinto tanto, sinto em barris a sua falta, barris do melhor vinho espanhol (mando-lhe uma garrafa dele, para que se embebede com a sua porcaria de cigarro). Nunca me esqueça.
Do seu velho homem bom."
Eu sempre odiei aquela máquina de escrever.
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