06/04/2013

Trovões

Entrou um cisco no olho de Charlotte e ela começou a lacrimejar copiosamente, sentada na escada da sorveteria fechada. O vento e o céu nublado fazia as pessoas passarem por ela rapidamente, sem nem olhar para o lado. Uma senhora com um guarda-chuva preto pisou em uma poça e encharcou Charlotte. Uma velhinha passou devagar, e parou.
"Ta chorando por que, minha filha?" - Charlotte não conseguia entender porque todas as pessoas mais velhas chamavam os mais novos de "minha/meu filha(o)".
"Entrou um cisco no meu olho"
"Sim, sempre é um cisco"
A velhinha se foi. Depois passou um homem que olhou rápido, depois olhou de novo, mas resolveu passar direto. Faria a mesma coisa, pensou ela, se estivesse no lugar dele? Poderia ver alguém chorando, sozinha, em um dia supostamente feio, e passar direto? Parou de chorar, a mente repetia insistentemente o trecho de uma música "ah, dindi... se tu soubesses...". Lembrou de outra música e com essa música lhe veio a lembrança malquista de Joaquim. Joaquim quem tinha lhe apresentado todas essas músicas. Aquele canalha. 
Levantou-se de uma vez e, em enérgicos passos, foi para casa, o céu trovejando.

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