Eu sou feia. Repetia. Feia, feia, feia! ao olhar-se no espelho do banheiro. Impreterivelmente feia, inescrupulosamente feia! Repetia. Era assim que se dizia? Era assim que se escrevia? Tão feia que era, nem lembrava das palavras, só de feia. Feia! Era uma feiura em perfeita simetria, olho um maior que o outro, queixo meio inchado, boca meio torta, toda ela era meia boca. Um copo meio vazio, provavelmente pensavam quando a via. E feia! Feia e tão somente feia que nem sabia o por quê de ser feia, só o era.
E o que era afinal? Ou, inicialmente? Pensava que era feia, mas seria mesmo ela feia ou era somente feia por apoderamento? De tanto dizerem que era feia, acabou se tornando, realmente e cruelmente, feia. Ou ela já era feia e só tomou consciência disso tarde demais e agora tinha que recuperar o tempo perdido com... Tempo! Tempo. O que é o tempo pra quem é feia? Somente resquícios de, de... Ah! De feiúra que não coube dentro da alma e resvalou pelo presente.
Tanta feiura, meu Deus! Como pôde ela olhar-se no espelho por tanto tempo? Confrontando o feio, a feia, ela. Ela era feia. Eu sou feia, repetia. Não podia achar-se bonita pois se encontrou feia e agora não conseguia mais se livrar desse ser específico. Feia, feia, feia. Brandamente feia sentia-se e sorria. Afinal, feia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário